O Projeto de extensão Capoeira Antiga
de Angola – Quilombo Angola - recebeu ontem, 05 de maio, no Centro Cultural da
UFMT, a visita de Alvino Souza Santos, o mestre Bidu, de 68 anos. Mestre Bidu aproveitou a ocasião para contar para
os alunos da extensão sua vivência no universo da capoeira, a importância de
conhecer e valorizar essa cultura, assim como os seus fundamentos e, sobre a
organização do Fórum Pro Capoeira – Política e Salvaguarda da Capoeira no
Estado de Mato Grosso, reunião que acontecerá no próximo dia 12, na sede do
IPHAN Mato Grosso e terá a participação de todos os grupos de capoeira de
Cuiabá.
Para o mestre, esse é o momento
da capoeira se reforçar e se organizar como cultura, como resistência, e
valorizar sua história, sua raiz e seus fundamentos. “A capoeira pra mim não é
luta, não é dança. Pra mim, a capoeira é arte. Antigamente para você ser mestre
dependia de vivência, de conhecer todo o universo da cultura africana, todos os
fundamentos dessa arte. Hoje isto tem se perdido um pouco. As academias tem se
preocupado apenas com o lutar capoeira e tem deixado de lado seus fundamentos,
sua história, sua cosmovisão da cultura africana”, afirma o mestre.
Mestre Bidu lembra que na época
que ele era aluno, nas academias de capoeira se ensinava a história da
capoeira, os professores levavam livros, fotografias e filmes para mostrar para
os alunos e o aluno sabia, além de jogar, todos os toques do berimbau, do
atabaque e dos outros instrumentos da roda. “Você pegava aquele aluno tímido e de
um momento para outro, ele estava cantando, batendo palmas. Quando a gente
menos esperava, ele já estava pulando, jogando, no ritmo da música”.
Sobre o Fórum Pro Capoeira, a
opinião do Mestre Bidu é que os grupos devem se organizar da melhor maneira
possível e deixar de lado as diferenças para fazerem um trabalho coletivo em
benefício da capoeira. “Temos que exigir um representante nosso na Secretaria da
Cultura para que quando os nossos projetos forem pra lá termos a possibilidade
de eles serem bem julgados e avaliados. Vamos deixar o eu de lado e ser o nós.
Quando virarmos nós seremos um Quilombo dos Palmares”, completa.
Associação Roda Viva – Mestre
Bidu lembrou de histórias da
capoeira da década de 80, quando mestre Olavo comandava em Cuiabá, em sua
primeira passagem pela cidade, a Associação Roda Viva. Na época, Bidu era aluno
de Mestre Heron, mas também frequentava a Asssociação Roda Viva. “A academia
era na casa dele. Ele morava no fundo e a academia era na frente. Lá ele tinha
todo material de musculação também, o treino era puxado e lá se ensinava os
fundamentos da capoeira”.
Sobre esses fundamentos, Bidu
conta que na academia de Mestre Olavo tinha aulas de afoxé, de maculêlê e todo
aluno que passava por lá tinha que saber tocar os instrumentos da roda e
cantar. “A academia dele (mestre Olavo) era de fundamentos, de simplicidade. Todo
aluno do mestre Olavo sabia tocar o instrumento. Tinha que saber tocar o agogô,
o atabaque, o berimbau e o pandeiro. Dalí não saíram só capoeiristas não. Dali saíram
grandes percussionistas, como Josué”, declara.
Nas palavras do mestre Bidu, além
de tocar e cantar, mestre Olavo formava o angoleiro completo, aquele que também
na hora do jogo sabia atacar e se defender. “Mestre Olavo não era um acrobata,
ele era preciso. Ele estava jogando aí ele falava pra gente: - cuidado. Aí
quando a gente menos esperava ele pegava a gente. A primeira vez que ele foi
pra Bahia, muitos alunos daqui o acompanharam”.
Sobre os ensinamentos que recebeu
de mestre Olavo e que carrega durante toda sua vida, Bidu conta que o principal
foi ser humildade e estar sempre atento. “Mestre Olavo nunca incentivava a
violência. Para ele, o capoeirista tem que ser humilde como uma criança. Estar sempre
atento com os olhos abertos, observando tudo. Porque ele não sabe o momento da
bonança e da tempestade. Isso ele ensinava a nós”.
Para
finalizar Mestre Bidu agradeceu a oportunidade de falar para jovens capoeristas
e disse que está feliz por ver um trabalho do Mestre Olavo em Cuiabá ter
continuação. “Vocês devem aproveitar e valorizar isto daqui. Vocês têm um
grande mestre e isso não pode se perder. O mestre Olavo não pensa na ponta do
pé, ele não enxerga o umbigo, ele pensa lá na frente. Ele é um verdadeiro mestre,
um mestre que abraça a causa, que veste a camisa. Eu não tenho o mestre Olavo só
como mestre, ele é um paizão”.